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sábado, 27 de abril de 2013

ENSAIO SOBRE A DUBLAGEM BRASILEIRA

Quase sempre em minhas postagens no Badfish acabo comentando sobre a dublagem de alguma produção que eu assisto. Não é coincidência pois sou fã desta arte. Sou tão critico que, por mais que o filme seja bom, eu não o assisto dependendo do estúdio que fez o trabalho. Até um tempo atrás nem ligava se tal ator fazia a voz deste ou daquele personagem. Foi a partir do estrondoso sucesso de Os Cavaleiros do Zodíaco no já distante ano de 1995 que me interessei pelo assunto. A revista Herói, a clássica publicação que é a principal responsável de estar escrevendo este blog, começou a fazer uma serie de reportagens com os dubladores do desenho.



O advento da dublagem brasileira surgiu com a necessidade do preenchimento das grades das emissoras de TV nos anos 1960. Ainda sem grandes investimentos - mesmo por que não era em todos os lares que se possuía o aparelho - os canais viram nos filmes, desenhos e seriados um bom tapa buraco em suas grades. A dublagem, então  se tornou algo útil para a população ficar confortável e não ter o trabalho de ler as legendas como nos cinemas. Nas duas principais capitais brasileiras foram abertos estúdios que contratavam atores de teatro e do radio que faziam as radio novelas. A primeira produção dublada que foi exibida na televisão foi a serie Zorro na Herbert Richers, empresa que ganhou o nome do fundador que entrou no ramo por sugestão de ninguém menos que Walt Disney, que queria suas produções mais próximas ao publico do país.

Logo o publico começou a ouvir a famosa frase "versão brasileira...", no inicio das produções, presente até hoje. Em Sao Paulo A.I.C São Paulo, Cine Castro e BKS (que existe até hoje) foram as mais solicitadas. E no Rio de Janeiro, a Herbert Richers foi a mais famosa. Dentro dos estúdios dessas empresas, atores e atrizes (para ser dublador, é necessário ser ator formado) usavam suas vozes para recriar  as mais variadas produções. A época de ouro, por assim dizer, foi durante as décadas de 1970 e 1980 onde a criatividade dos estúdios estava no auge fazendo mais do que traduzir outras linguás e sim criando verdadeiras versões brasileiras ao ponto deste período a dublagem brasileira ganhar o titulo de a melhor do mundo. A nova geração surgiu a partir da metade dos anos 1980 e hoje, eles são veteranos.

Durante um tempo, a Rede Globo tinha um departamento de cinema onde cuidava de adquirir grandes sucessos de Hollywood. A politica da empresa fazia com que se houvesse uma padronização de vozes nesses filmes. Daí surgiu o termo "boneca" onde um ator de dublagem acaba fazendo a voz de um ator em vários filmes. Um grande exemplo é o falecido ator Newton Da Matta que fez durante anos a voz de Bruce Willis. Isso criou um mal costume que dura até hoje, é difícil assistir um filme dublado onde a voz não é a mesma que você está acostumado. No caso de Da Matta que, infelizmente morreu, é compreensível, mas quando um profissional está na ativa, é muito ruim. Esse caso não é o único, muitos dubladores emprestaram suas vozes aos mesmos atores em varias produções. Como Monica Rossi (Demi Moore), Marco Antonio (Johnny Depp e George Clooney), Sheila Dorffman (Sandra Bulock), Mario Jorge (Eddie Murph e Jonh Travolta) e Mirian Fischer (Winona Ryder, Angelina Jolie e Drew Barrymore), apenas para citar alguns.

         
Mas, como diz o velho ditado, tudo o que é bom dura pouco, e do inicio dos anos 2000 para cá a categoria entrou numa crise criativa que vem se arrastando e cada vez mais preocupa os fãs. Muitos estúdios menores abriram as portas, principalmente na cidade de São Paulo, e para as distribuidoras gastarem menos, acabam enviando suas produções para lá. Distribuidoras medias e grandes e até os canais de TV por assinatura optaram fazer o mesmo e o mercado paulista acabou inflando. Para se ter uma ideia, são 30 estúdios na capital paulista contra 15 da capital carioca. O resultado é queda da qualidade onde os profissionais mais novos e com pouco talento assumem personagens importantes com pouca experiencia. La no lado do Rio, a coisa estava ficando um pior. A antes poderosa Herbert Richers começou a perder terreno aos poucos. O primeiro baque surgiu na construção do projac, o popular sede da Globo, que alugava os estúdios da Herbert (que também tinha estúdios de cinema) para gravar novelas e especiais. Depois foi o rompimento com dois grandes estúdios, a Fox começou a enviar toda a sua produção para São Paulo nos estúdios Sigma e Dublavideo. Enquanto a Warner dividiu suas produções entre a Delart, Wan Marcher e Cinevideo. A Herbert sobrou algumas coisas da Universal, que também utiliza os serviços da Cinevideo e Audiocorp. Outro golpe sentido pela empresa foi a desistência do SBT pelas novelas mexicanas que eram dubladas no estúdio por volta de 2006. Somaram-se varias dividas trabalhistas. Perder tantos e bons clientes quase de uma vez abalou as estruturas da maior empresa de dublagem do país que acabou fechando as portas em 2009. O mesmo ocorreu com a VTI, outra veterana no ramo. Mas este caso ainda não foi bem esclarecido, já que a VTI dublava exclusivamente os produtos da Paramont, através da distribuidora Network. La em São Paulo, mesmo com tanta oferta, a veterana Alamo também fechou as portas.




Outras crises já atingiram o mercado. Em 1973 houve a primeira greve da categoria que reivindicou a criação da profissão de dublador, com sucesso. Em 1997, reivindicando aumento na hora trabalhada eles fizeram outra greve que atingiu varias series e desenhos exibidos na época.  A rede CNT que, exibia 5 novelas mexicanas dubladas na Herbert Richers, teve que exibir as produções legendadas devido ao tempo de paralisação que prejudicou a exibição diária das novelas. Em 2006, alguns atores decidiram protestar contra as grandes distruidoras que pagam o serviço do dubladores uma unica vez e usa o serviço deles em varias mídias como TV aberta, TV por assinatura, DVD,  cinema, etc.

Mesmo respeitando o trabalho dos profissionais de São Paulo, gosto mais dos filmes e series dubladas no Rio devido a quase onipresença da Herbert Richers nas produções que eu assistia na infância.  Em Sampa, sou fã apenas dos veteranos que faziam as séries japonesas e daqueles atores que fizeram muitos desenhos japoneses nos anos 1990.  Mas admiro a todos. Desde daqueles que fazem protagonistas quanto os eternos coadjuvantes, pois para mim, a dublagem é uma arte não reconhecida que nos acompanha durante a vida toda.


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